23 janeiro 2008

O RUGBY EM PORTUGAL

Quando se analisa o Rugby em Portugal, à luz dos documentos que conseguimos reunir, pode constatar-se que existem diferentes momentos na sua história que convirá tratar separadamente.
Embora a nossa opção seja questionável decidimos considerar três fases:

1 - Introdução: do primeiro jogo à formação da Associação de Rugby de Lisboa (1903 a 1927);
2 - Consolidação: da criação das Associações até à constituição da FP Rugby (1927 a 1957);
3 - Desenvolvimento: qualitativo e quantitativo (a partir de 1957).


1. Introdução do Rugby em Portugal

Apesar das suspeitas de que este poderá ter sido praticado em Portugal no final do Sec. XIX, as pesquisas que alguns autores, como o falecido Eng. Vasco Pinto de Magalhães, conduziram sobre a história do Rugby em Portugal apontam para o dia 11 de Dezembro de 1903 como o primeiro momento de que existe prova documental da realização de um jogo entre oficiais duma esquadra inglesa e o Lisboa Football Clube, num campo deste clube na Cruz Quebrada.
Tais encontros continuam a repetir-se na zona de Lisboa e mesmo na região do Porto mas apenas entre equipas exclusivamente constituídas por britânicos.
Há notícias, através de Alberto de Freitas, de que o Rugby foi efemeramente introduzido em 1919 por Cândido de Oliveira aos alunos da Casa Pia, que lhe chamaram Jogo da Azeitona. Esta prática dura apenas até ao ano de 1921 e teve um carácter ocasional.
No entanto só em 1922 se verifica um facto que contribuirá decisivamente para introdução do Rugby entre portugueses, quando o Royal Football Clube, decidiu lançar um novo desporto – o Rugby sob proposta de alguns membros franceses.
Entre estes é importante referir, pelo seu conhecimento e papel desempenhado, o nome de Maurice Baillechache (antigo capitão do Havre Athlectic Club e da Selecção Normandia) e também o do português Francisco Xavier de Araújo (que tinha tomado contacto com o jogo durante os seus estudos em Inglaterra e Escócia). São eles que impulsionaram a realização do primeiro encontro com participantes portugueses, em 22 de Março de 1922 num jogo entre o Royal Football Club e os britânicos do Exiles. Ainda em Novembro de 1922 disputa-se o primeiro encontro entre duas equipas portuguesas – Sporting Club de Portugal e o Royal F.C..
A partir desta data, sob a égide do Sporting Club de Portugal, que sucedeu ao Royal F.C. (extinto em 1923) como pioneiro do Rugby em Portugal, é formada em 24 de Janeiro de 1927 a Associação de Rugby de Lisboa. Foram seus fundadores o Sporting e outros clubes que formaram equipas a partir de antigos praticantes do Sporting – Sport Lisboa e Benfica, Ginásio Clube Português e Carcavelinhos Football Club. Nessa mesma época realiza-se o primeiro campeonato de Lisboa, ganho pelo Sporting Club de Portugal.



2. Consolidação do Rugby em Portugal
A partir da criação da A.R.L. (Associação de Rugby de Lisboa) verifica-se que também no Porto é criada uma Associação e disputado o primeiro campeonato em 1929/30, infelizmente só se mantendo até 1934/35.
Em Lisboa a actividade mantém-se e realiza-se mesmo em 1934/35 o primeiro Campeonato Escolar, de que temos notícias através do já mencionado Eng.º Pinto Magalhães que, conjuntamente com Francisco Xavier de Araújo, desempenha um papel determinante na fase de consolidação do Rugby em Portugal.
Em 13 de Abril de 1935 disputa-se em Lisboa o primeiro jogo internacional, Portugal – Espanha, ganho pelos espanhóis por 6-5, este contacto é repetido em Madrid em 1936, ainda com vitória espanhola, à qual se seguem 18 anos sem jogos internacionais, até 1954.
Merece ainda destaque a progressiva divulgação das Leis do Jogo de Rugby (ao tempo chamadas Regras) que foi iniciada em 1926 e 1927 de forma ainda reduzida, sendo retomada pela A.R.L. (Associação de Rugby de Lisboa) na primeira edição oficial em 1942/43, e continuada em versões de actualização.
Nesta fase é fundamental a difusão do Rugby entre os universitários que se acentua na década de 1950 com a criação do CDUL (Centro Desportivo Universitário de Lisboa) e a expansão a Coimbra (Associação Académica de Coimbra) e recomeço da prática no Porto.
Em 23 de Setembro de 1957 é criada a Federação Portuguesa de Rugby, cujo sócio fundador foi a Associação de Rugby do Sul. A A.R.L. (Associação de Rugby de Lisboa) termina a sua actividade com a tomada de posse dos Corpos Sociais da FPR (Federação Portuguesa de Rugby) em Julho de 1958.


3 - Desenvolvimento: qualitativo e quantitativo (a partir de 1957).


Após a entrada em funções dos primeiros Corpos Sociais a FPR organiza o primeiro Campeonato de Portugal (1958/59), actualmente designado Campeonato Nacional, de que saiu vencedor o Clube de Futebol “Os Belenenses”.
Nessa época existem 9 clubes filiados na Federação Portuguesa de Rugby e apenas na categoria de Sénior, sendo 4 de raiz universitária e apenas a Associação Académica de Coimbra não pertencia à zona de Lisboa.

Durante as décadas de 60 e 70 assiste-se ao crescimento dos clubes universitários, à iniciação cada vez mais precoce no Rugby, e à extinção da secção de Rugby no Sporting Clube de Portugal, clube de grande importância na fase de consolidação do Rugby em Portugal. Por outro lado verifica-se a implantação do Rugby na zona Norte e a sua expansão para a região Sul.
Constata-se também o domínio do Centro Desportivo Universitário de Lisboa na conquista de títulos e a importância dos estádios Universitários de Lisboa, Porto e Coimbra como verdadeiros centros de apoio ao treino e competição. A par destes factores reveste-se de grande importância e fomento da modalidade em Portugal o início da cobertura televisiva de alguns jogos do Torneio de V Nações, com cobertura regular a partir de 1969.

A partir de 1974, à semelhança do sucedido noutras modalidades desportivas e fruto de conjuntura política resultante do 25 de Abril de 1974, verifica-se um acentuado aumento do número de praticantes e clubes, em particular nos escalões mais jovens que já tinham criados.

Apresentam-se, a seguir os momentos de sucessivo alargamento da idade da prática do Rugby em Portugal: Juniores – dos 17 aos 19 anos, a partir de 1963/64; Juvenis – dos 15 aos 16 anos, a partir de 1964/65; Iniciados – 13 aos 14 anos, a partir de 1969/70; infantis – dos 11 aos 12 anos, a partir de 1973/74; Benjamins – dos 8 aos 10 anos, a partir de 1988/89; Bambis – dos 7 aos 8 anos, a partir de 1995/96; Femininos – a partir de 2000. No entanto este crescimento coincide com um momento de abandono dos contactos internacionais no escalão sénior de 1974 até 1979, com inevitáveis prejuízos na melhoria qualitativa dos praticantes desse escalão.


O crescimento do número de praticantes mais jovens, aliado ao proporcionar de contactos regulares das Selecções Nacionais de jovens com países mais evoluídos, permitiu o aparecimento de gerações de jovens jogadores que, durante as décadas de 80/90, contribuíram para a melhoria qualitativa do Rugby Português, bem expressa nos resultados e prestígio internacional das nossas selecções. Tal melhoria veio a ser comprovada após o regresso às competições internacionais no escalão sénior, com os resultados averbados pela mesma selecção.

A meio da década de 1990 é importante que se tenha consciência que o impulso originado em 1974 sob o apoio do Estado, e prolongado em 1980, pelo dinamismo associativo, está em fase e refluxo. Esta opinião pode constatar-se através de alguns indicadores negativos, pese embora a existência de outros factores positivos.

Por um lado o Rugby transformou-se completamente nos últimos anos e o recente reconhecimento oficial da possibilidade do profissionalismo dos praticantes, já pressionado pela mundialização do Rugby, veio contribuir para uma aceleração do seu desenvolvimento nos países mais desenvolvidos, tendo a alargar o fosso que nos separa desses países. Por outro lado, apesar da existência de seis escalões etários e do início da prática feminina do Rugby, o Rugby está em 2000 com apenas 3721 praticantes na Federação Portuguesa de Rugby e com um terço desses praticantes no escalão sénior e uma percentagem tanto menor quanto mais jovem é o escalão em causa, configurando uma perfeita pirâmide invertida semelhante à situação anterior a 1974. Finalmente verifica-se que a dos clubes que praticam o Rugby / alguns tem vida efémera e / ou muito problemática, embora haja casos de rara longevidade como Sport Lisboa Benfica e o Clube de Futebol “Os Belenenses” os mais antigos que se mantêm em actividade, desde 1947, Centro Desportivo Universitário de Lisboa e G.D. Direito desde 1952, Associação Académica de Coimbra desde 1956.


No que respeita aos factores positivos, é inegável que o Rugby português dispõe actualmente de clubes com instalações mais adequadas para o treino e jogo, não estando totalmente dependentes dos Estádios Universitários, em particular o de Lisboa que ao longo de vários anos assegurava, larga fatia da actividade nacional. Além disso surgiram, em especial a partir de 1974, alguns fora das zonas das grandes cidades que têm conseguido instalações próprias, atingir níveis de prática apreciáveis e se mantém em actividade há períodos já significativos, como por exemplo o R.C. da Lousã, R.C. Bairrada o C.R. Arcos de Valdevez, Clube de Rugby de Évora o R.C. de Loulé e Caldas Rugby Clube.

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